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ANA MEIRELES
( Pará )
Nasceu na Vila Sorriso em Icoaraci, distrito de Belém do Pará. Poeta e cronista brasileira. Possui formação em Psicologia (UFPA) e especialização em Psicologia Jurídica (Unama). É servidora pública lotada na Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda -SEASTER. Os poemas desta seleção foram extraídos de publicação da Revista É autora de 5 livros de poemas: Escritos ao Vento; Entreversos; tempo meu; Uni-versos meus; Semblante de nós (parceria com Marcos Samuel Costa). Publicou o livro de crônicas Atravessamentos. Ana Meireles |Icoaraci, distrito de Belém do Pará|. Poeta e cronista brasileira. Possui formação em Psicologia (UFPA) e especialização em Psicologia Jurídica (Unama). É servidora pública lotada na Secretaria de Assistência Social, Trabalho, Emprego e Renda -SEASTER. Os poemas desta seleção foram extraídos de publicação da Revista É autora de 5 livros de poemas: Escritos ao Vento; Entreversos; tempo meu; Uni-versos meus; Semblante de nós (parceria com Marcos Samuel Costa). Publicou o livro de crônicas Atravessamentos.
O RUMO DAS PALAVRAS
Não sei o rumo que as palavras tomam
escritas no branco de um papel
e depois dissecadas na leitura crua
de infinitos significados.
Nomes e conceitos buscando um berço
o enlevo da emoção
na razão que a mente escava
farejando os sentimentos
à forma de nexos e complexos
eixos neuróticos e nervosos
figuras paradoxais
vestes de “EUS”
entorpecidos e obtusos
da alma sem cantil
para ler e beber.
Não sei o rumo que as palavras tomam
nos seus sentidos devanescentes
às vezes beligerantes e metamorfoseantes
alquimias intrigantes que à fina compreensão escapa.
Leitura oca da palavra frouxa
que ameaça o espírito da escrita louca.
Não sei o rumo que as palavras tomam
sem enredo num pergaminho
correndo soltas como ingênuas moças
desnaturadas na interpretação.
É uma sina triste e tosca
ficar prisioneira na interrogação?
VII ANUÁRIO DA POESIA PARAENSE. Airton Souza organizador. Belém: Arca Editora, 2021. 221 p. ISBN 978-65-990875-5-4
Ex. bibl. Antonio Miranda
Deixei as horas tomarem conta
De todo o espaço, sem existirem...
Deixei me fazer estar ali sem estar
Nem um longo sono me guardei, busquei
Fui afrouxando laços, me desatando de nós
Nada naquela hora inexata, inexistente,
Tinha tanta importância quanto o nada que me cercava.
Eu era nada; e eu era tudo que só a mim tinha
Guardei-me numa concha fechada, fugi dos ruídos absurdos
Que faziam a minha mandíbula atritar
A minha mente emitir o clamor de uma concessão
Que apaziguasse aquele sinistro desgaste
Capotei no tempo, me vi liberta de lembranças
Meu celular era um objeto recusável,
Jazia desprezado na ponta de um móvel.
Se me fosse, ele ficaria ali, eu iria comigo sozinha
Sem alça, sem caça, sem bagagem, sem coisa alguma. Por quê?
Experimentar a desimportância é quase uma oração sem palavras,
uma conversa silenciosa e quietinha com o próprio corpo.
O resto do dia é a vida
A campa que a chama para a história
O resto da vida são os sonhos
O que nunca será visível, nem real
É a inversão da não-invenção, a sorte
O vago, o limítrofe, o que têm contornos de fim.
O resto da vida é o que cabe
e o que o peito acolhe sem espera.
É a tarefa que rouba a alma e mecaniza os gestos.
O resto do dia são as palavras tardias
as que murcham no vigor de não terem
sido ditas no albor passageiro do tempo.
O reto do dia são as feridas que aguardam
o unguento salvífico que estanca o sangue a escorrer.
O resto do dia as novelas, as que repetem
o cotidiano e são aquilo que sempre são: Lágrimas
Que escorre, beijos que não molham e mãos
sempre à procura, de sentir o fio do resto de um dia.
[A pele encanecida, a boca torta e bocejos do viver...]
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Página publicada em março de 2022
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